terça-feira, 30 de agosto de 2011

Produto de uma madrugada mal dormida

E agora?
vou-me embora
pra não ver você chorar
já estava na hora
de alguém se cansar

O depois?
não sabe de nós dois
não procura porquê ou pois
só quer esquecer tudo que foi você
bem e mal querer

E o futuro?
faz furo
pois é tiro no escuro
é osso duro de roer
essa vida que nos faz endurecer

sua vez

de vez em quando, eu te amo
sabe, algumas poucas vezes
no resto do tempo, não sei
mas é por enquanto, só por enquanto

várias vezes
te admiro, desejo, chamo, odeio
muitas vezes
te procuro, esqueço, compreendo, ouço
infinitas vezes
te entendo, quero, desquero, canto

as poucas vezes que te amo
já me são suficientes para querer mais
vezes

sábado, 20 de agosto de 2011

esclarecimentos

Se eu escrevo para alguém? Quem é meu destinatário? Não sei.
Escrevo, talvez, para mim. Mesmo que perdida entre outros alguéns, todos eles envolvem um pouco de mim. Escrevo para o desconhecido. Um anônimo que tem um pouco de mim. Mas escrevo também para qualquer um que esteja disposto a ler, qualquer um que se idenfique, que sinta, que ignore.
Quem são meus personagens? Pode ser eu mesma, pode ser alguém que eu conheça muito bem, alguém que eu vi enquanto esperava na fila do banco ou um alguém que cruzou meu olhar no ônibus. Mas nunca será uma dessas opções sozinha.
Escrevo porque? Porque preciso. Que mentira! Posso viver sem escrever. Não é como me alimentar.  Escrever não me é necessidade, me é conforto (e um pouco do oposto também). Escrevo porque quero. Escrevo, principalmente, porque sinto.
E sinto mais ainda porque escrevo.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

boom

era a criatura mais bondosa, alegre, viva que todos já viram.

tinha tanto amor de dentro de si
que um belo dia, explodiu.

e quanta coisa saiu de dentro!

todos esperavam uma chuva de cores
milhares de arco-íris
fluorescentes
fogos de artifício em formatos de
corações, borboletas, estrelas
cheiro de chuva, perfumes de flor

nada

quando explodiu
nenhum cheiro
nenhuma cor
nenhum som
tudo em branco
vazio

tão cheio de possibilidades

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

fora de si

morreu de amor
chorou por tres noites
e trancou-se um mês, em algum cômodo, dentro de si
jurou que ficaria só para sempre e
que amor era uma mentira colorida

começou a odiar números pares
só sentava-se em mesas com uma cadeira
comprava dois ingressos, sendo um na ponta, para ficar sozinha
parou de achar beleza na lua
e não mais prestava atenção nas músicas que tocavam

até que percebeu: estava ficando feia
não ria ou sorria, e nem chorava, quase já não piscava 
sem amor, acabou não ficando só
a ignorância, a impaciência, o pessismismo a acompanhavam
até que cansou de tanta coisa triste

enfim, resolveu ficar à sós com o amor
e repousou em si

sábado, 13 de agosto de 2011

prazer,eu

Eu te vejo tantas vezes; num bar, numa esquina, no ponto do ônibus, atravessando a rua, no cinema sozinho. Eu não sei seu nome, sua cor preferida, que música você cantarola no chuveiro ou qual o livro que você está lendo. Mas eu juro, eu tenho certeza que eu podia me apaixonar por você. Ou não, mas como eu vou saber se eu nem te conheci?

Porque você, você pode ser qualquer um e também não pode. Porque qualquer um, eu não quero. Eu quero você. Você mesmo. Você, um qualquer que gosta de algumas coisas e não gosta de outras. Qualquer coisa que me agrade.

Você também não me conhece. Eu sou mais uma. Talvez, mais duas ou três. E eu te vejo todo dia, possibilidade. Eu te encontro todo dia, dúvida. E eu te quero cada vez mais, surpresa.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Sobre o nosso amor

É, eu podia fazer uma cena de filme. Sair correndo pela multidão e te alcançar, driblar toda a segurança do aeroporto, arruinar aquela grande festa de família fazendo alguma besteira fofa, fazer uma serenata na frente do seu trabalho. Mas não. Isso é amor de filme. Amor de filme, não quero não. Quero amor de verdade.
Amor de cafuné. Amor de respiração no pescoço de manhãzinha. Amor de abraço quente. Amor das coisas que acontecem entre os grandes acontecimentos. Amor pequeno. Bem inho. Quero amor de meu bem. Amor de cala a boca. De pedir desculpa. Amor que tem orgulho. Que bate a porta. Que acaba de vez em quando. Que se cansa das mesmas piadas.
Não precisa de flores não, nem faixa com meu nome, nem aquele anel mais caro. Não quero muito, nem quero de menos. Driblar, só os problemas. Correr, só da tristeza. Arruinar a festa pra quê, melhor curtir junto. Serenata? Me poupe, você nem canta bem.
Mas pode vir aqui e me ajudar a carregar a mala até o taxi, trocar a lâmpada, jogar cartas numa madrugada entediante. Venha nas noites frias e ligue nas noites quentes. A gente pede japonesa ou pizza e assiste metade do filme que você alugou.
E fica até a manhã seguinte.
E se quiser voltar, pode. Mas liga pra avisar.