quinta-feira, 30 de junho de 2011

rima amarrada

Em cada abraço
um laço que faço
desmancho um nó
agora um pouco menos só
faço sorriso de enfeite
amarrando a mim esse deleite

domingo, 26 de junho de 2011

poeminha para passar o tempo

a vida nossa, sem graça, de cada dia
gracioso
cheios de graça e desgraça
passa
por ruas, canais, desvios, atalhos, espinhos
desa
      linhos
dessas línhas elÉtricas que ligam essa gente
passageiras  da vida
desligada das gentes que vive
essa vida que passa
por fios que tecem o tempo -
o maior mistério de todos os tempos
diluído em risos, respiros, tropeços, tiros, suspiros
qualquer vida de tempo que passa, que medimos
mas não suprimos
contamos em ideias, fatos, atos, terços, histórias
calculamos em cantos, encantos, desencantos, algum pranto
Ah... tanto
pouco tempo!
pra tantas passagens
até perco a conta
dos momentos que não cabem no momento
do não dito, do quase lá,do espaço entre os lábios, do arrepio
dessa vida feita de tempo que passa
em segundos
que preenchem as horas
dos instantes explodindo de minutos
que sem querer
perdem o minuto de dizer o mais importante:

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Sobre coceira nas costas e motivos para se amar

Coceira é uma coisa que irrita. Agora, a coceira que mais irrita é aquela que dá nas costas, naquele lugar em que não se alcança. Não importa o malabarismo que você faça, o lápis que você pegue para lhe ajudar, a porta que você se esfregue, você não vai acertar o lugar. Você precisa de um outro alguém para coçar - é a única solução. E eu não tinha mais um par de mãos para me socorrer. Eu telefonei para você, aos pulos, não sei porque dos pulos, mas eu pulava de um jeito engraçado, como se fosse uma anestesia para o meu nervoso. Ainda bem que você não estava em casa. Eu disse "ainda bem"? Como assim? Quem se importa em parecer ridícula num momento de vulnerabilidade como o meu?
Você atende e diz que está no viva voz, que sua reunião já vai começar, pede que eu fale rápido. Penso se seria uma boa ideia eu confiar meu drama para você e sabe-se mais quem. Na verdade, é um drama bem estúpido pensando agora, mas no momento exato em que ele acontecia, ele tinha todo o direito de se constituir com o maior drama do mundo. "Boa reunião" e desligo o telefone.
Nesse momento minhas costas já devem estar coçando faz cinco minutos. Qual será o tempo máximo que as costas podem ficar coçando? Penso então que devo pensar em outra coisa e assim o incômodo irá passar. Dizem que frio é psicológico, o que eu nunca acreditei, mas naquele momento depositei toda minha fé em coceira nas costas o ser.
Eu acrescentei umas duas linhas no meu trabalho, na tentativa de distração do meu probelma, mas já pensava em soluções drásticas como bater na porta do vizinho, até que sinto o barulho da chave na porta. "Minha reunião foi cancelada logo depois da sua ligação". Eu corro tão feliz pulando por entre os móveis em sua direção, quase te derrubando e você não entende o porque da minha alegria, mas me abraça mesmo assim. E sabe quando alguém te abraça e enquanto abraça arrasta as mãos pelas suas costas? Quem inventou este tipo de abraço, tem seu lugar no céu! E você, como você sabia exatamente o lugar certo?
A gente se desprende e eu tenho um sorriso bobo no rosto e você uma expressão indescritível de "não estou entendendo nada", o que me faz ficar ainda mais feliz. Você pergunta por que estou tão alegre.
- Obrigada, eu digo, como se você tivesse feito a coisa mais linda do mundo para mim.
- Pelo que?
- Te amo.
E lhe dou um beijo na testa.

domingo, 12 de junho de 2011

jantar

um vinho, tinto, pra combinar com seus lábios
você pede branco,
para combinar com a nossas mentes
vazias de desculpas
cheias de espaços para transbordar 

um menu sortido, de sortidas dúvidas
o de sempre, pra não errar
escolhi
você, pediu o mesmo
por já gostar

nós jantamos, a nós mesmos
sem garfo ou faca
sujamos o pano da mesa
não limpamos a bagunça 
e rimos na sobremesa

pagamos caro
por nosso fútil luxo
valeu a pena gastar
nosso pecado claro
com o nosso gostar

o gosto fica na mente
na boca, o desejo despejado
no guardanapo de batom
guarda sorrisos bobos e olhares digeridos
mastigamos os sabores de um belo dia frio

a gorjeta
queimamos no microondas

sábado, 4 de junho de 2011

Eu tomei o último gole do nosso milkshake.

Eu tomei o último gole do nosso milkshake. Eu sei, você gosta do último gole. Por que então não pedimos dois ao invés de um? Ah, você disse que não queria um inteiro, que podíamos dividir. Certo.
Claro, eu fiz de propósito. Já não lembro porque, mas tenho certeza que quando saímos do carro, nós estávamos irritados um com o outro. Então eu bebi o último gole de propósito. E beberia de novo.
Você não disse nada. Você sorriu. Sorriu? Tirou seu canudo do copo e lambeu os vestígios de sorvete batido. "Patético". "Eu ou você?".
Olhares.
Eu ou você, alguém pagou a conta. Eu tentava, sem sucesso, lembrar porque tínhamos brigado. Eu precisava saber! Eu precisava gritar, falar que estava certa, que a culpa era sua, dizer que você não me ouve, chorar, fazer uma cena, reclamar da louça que você não lavou no meio da discussão. Maldito motivo! Como posso ficar irritada com você sem saber o porque?
Nós chegamos em casa. Você disse que ia ver televisão. Nós trocamos algumas palavras secas sobre algum caso de algum amigo em comum, eu avisei que sua mãe ligou enquanto tomava banho. E eu já queria te abraçar, dar mil beijos e fingir que nada aconteceu. Mas o que aconteceu? - Nós pensamos. Então eu troquei de roupa e fui dormir.
Nove da manhã de sábado. Você não está na cama. Nem seu travesseiro. Ando até a sala e lá está você: dormindo no sofá. Por que?
Zzrrrrrrrrrrrrrummmmmm.
Eu posso ouvir seus passos irritados vindo da sala até a cozinha. Eu sinto que você está prestes a gritar seu silêncio do dia anterior, começando com "Você sabe que horas são?". Então você me vê despejando um líquido do liquidificador para o copo.
"Chocolate, seu preferido". Eu lhe entrego apenas um canudo. Você pega outro copo, despeja por volta de dois centímetros do milkshake. "Eu gosto de deixar o último gole para você".
Obrigado.
Obrigada.
Sorrisos.
Olhares.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

eu sei quem você é

sabe,
eu costumava gostar dessa sua cara meio arrogante
não por uma questão de atitude, acho meio besta
eu gostava era do desafio
ah, eu queria ganhar

mas agora eu sei
ou sempre soubesse
por detrás, eu vejo
um quê de carência, um quê de sensibilidade
um quê de não se deixar desafiar

nunca disse que era uma má pessoa
talvez, às vezes, mas não é por mal
mesmo que,às vezes, faça mal
mas não à mim
de mim, o bem, à mim, muito bem

mas você ainda precisa crescer, entender
você só quer se proteger, e eu também
mas de mim, você não tem medo
só porque eu te desafiei
e você me abraçou,
sem máscara