terça-feira, 1 de novembro de 2011

Os sentimentos não deveriam ir para o dicionário

Estava na dúvida se amava de verdade. Foi procurar no dicionário para ter certeza. Culpou-se. Talvez não amasse. Estava enganada esse tempo todo. Falavam em zelo, dedicação, afeição, ternuna, afeto, apego. Mais sentimentos. Ela queria algo concreto. Queria poder pegar no amor, embrulhar, enviar pra presente. Foi então procurar o significado dessas palavras que definiam o amor. Umas levavam às outras e todas voltavam ao início: amor. 
Queria chorar. Ela entendeu:  amor é um círculo vicioso, voltando sempre a si mesmo.O início sem final, o final sem início. Um que vai a dois e dois que volta a um. Não amava - concluiu. Não queria amar. Não daquele jeito. Se era para amar com repetições, voltando sempre ao começo, não queria. Não queria a possibilidade de um e dois, queria o três, quatro, treze, duzentos, um milhão, o infinito de caminhos. Queria o amor que muda, que avança, que cresce, que aprende. Amor que não se importa com início, meio e  fim. E sim com a possibilidade. 
Fugiu. Mandou uma carta para ele explicando o ocorrido, que não podia mais vê-lo pois amava do jeito errado,e que ele nao merecia isso. Ele, muito pacientemente, explicou a ela que cada um tinha seu jeito de sentir, que não podíamos classificar ou quantificar os sentimentos. Ela não acreditava, disse que os livros não se enganavam e que o dicionário era o livro que mais sabia pois tinha a definição de todas as coisas do mundo. 
Um dia, depois de alguns meses, recebeu em sua casa uma caixa cheia de livros de poesia com um bilhete que dizia: mando-lhe os corretos dicionários.

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