sábado, 28 de maio de 2011

Sobre tampas e pessoas

Eu tentava ridiculamente abrir a tampa de um creme. Minhas mãos já doíam e eu já havia xingado todas as tampas do mundo. Então você chega, ri e diz: deixa que eu abro. Eu disse que não, que era questão de orgulho. Como seria possível uma tampa não abrir? Elas são feitas para isso, afinal.
Sim, eu estava realmente irritada com aquela situação. E você prosseguiu:
- Para de fazer força; não é força, é jeito.
Essa é uma daquelas frases que todo mundo gosta de falar, mas odeia ouvir. E eu ouvi. Essa frase é uma mentira: tem tampas que precisam de força, tem tampas que precisam de jeito e outras que precisam dos dois. Você acha o que, que todas as tampas do mundo obedecem a algum tipo de regra para a sua abertura? - Eu disse.
Você riu de novo. Eu sentei no sofá, já cansada da minha árdua discussão com a simpática tampa. Talvez ela só não quisesse ser aberta naquele momento, ou nunca,quem vai saber. Às vezes as pessoas não querem conversar, não querem pensar, não querem cantar, sorrir, chorar e muitas outras ações que teriam sido feitas para realizar. Por que não poderia ser o mesmo com as tampas? Ou com uma gaveta que emperra? Então eu coloquei o pote em cima mesa e liguei a Tv.
Parabéns, você ganhou, eu desisto.
Wrak.
Você está na minha frente com o pote em uma mão e a tampa na outra. Eu primeiro lanço um semi olhar de raiva. Eu sabia que você faria isso para provar que conseguia abrir. Mas não, eu ri, e você riu junto.
- Era força; e jeito - você disse.
E nós fomos ver televisão, sem conversar, sem pensar. Só ver televisão.

4 comentários:

  1. muito voce ju!
    adorei a forma de escrita tb..
    Beeijos, Jade.

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  2. Pra todo tipo de jeito é exigida uma certa força. Seja a força de uma montanha em erupção ou de uma folha de papel.

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  3. Adorei, mesmo. Vou dizer porque, desculpe se eu escrever demais:
    Foi brilhante o jeito como você personificou a tampa, pra depois transmitir sua personalidade à personagem. simpática, cansada de falar e discutir, assim é a tampa, assim é a protagonista. O final da crônica é acaba recheado de novo significado, quando o outro presonagem abre a tampa. É claro que provoca risos, que mais havia de provocar? Ao abrir a tampa, supera sua resistência. e também, como a tampa é feita espelho da protagonista, supera seu mal-humor. Usa força e jeito. Um pouco de si, um pouco da protagonista.
    Uma cena tão pequena, simples, se tornou muito mais profunda, apenas com uma equivalência: tampa=Eu. Percebo ainda que sem a segunda pessoa, o conflito nunca se resolveria. Nesse conto, a protagonista nunca abriria a tampa. Lutava contra si mesma. era preciso outra pessoa para terminar o conflito, e resgatá-la.

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  4. eu não teria explicado melhor, muito obrigada =)

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