domingo, 1 de maio de 2011

Atrasado

A cada gole que você bebia, menor meu tempo ficava. Só um café, esse é meu tempo, você disse.
Desculpa se agora todo o antes parece invenção. Pode ser que tenha sido tudo mentira mesmo, mas foi bom, não foi? No fundo, não é isso que importa? Toda mentira tem aquela coisa de querer ser verdade e dizem que o esforço já vale algumas vezes. Vai, confessa que nós mentimos juntos. Confessa que essa sua auto-confiança é só esconderijo. Você sabe que eu não te acho a melhor. Você é instável, exagerada, sincera. Ainda assim eu quero você. E outro gole se vai.
Eu sei o grande problema. O porquê da sua fuga - você não pode me mudar. E você não aceita falhar, você luta, corre, arrisca, mas já não quer mais estrangular a si mesma em vão. E eu sei que não vou mudar você também. Eu odeio quando você me liga só pra dizer que o céu está lindo. Mas eu ainda te procuro.
Me diz, se acabou pra você, pra que aquela foto que você não apagou? Viu, eu sabia. Não, não é jogo sujo. Glup. Glup. Glup. Você me olha com olhar de raiva. Você interpreta bem, muito bem. Você não tem raiva de ninguém, você não consegue, você se esforça, parabéns, mas não consegue.
Você pergunta como vai minha mãe. E agora quer saber se eu prefiro a pipoca doce em cima ou embaixo caso ela seja meio-a-meio. Como assim? Não, não faça isso. Eu odeio quando você pergunta trivialidades no meio de uma conversa importante. Você odeia brigar, eu sei, mas não vamos consertar isso depois. Mais um gole.
Você é uma perda de tempo. Você não compra nem na metade das palavras que esses caras falam pra você ao pé do ouvido. E ainda assim , você ouve todas. Então me ouve, eu também sou um deles. Você só está se divertindo, eu sei. Uma criança é o que você é, acredita em tudo, pergunta tudo. Curiosa. Tá vendo, a culpa é sua e sua curiosidade. Você foi até o quase final, ofereceu o doce e puxou antes da mordida. Mas mesmo assim, fica, por favor. Eu lhe compro vários cafés. Aqui e depois em casa.
Você pede a conta. Eu conto os minutos. Você ainda tem café. E eu não disse nada. Você toma o último gole de nós. Aquilo não era só café. E acabou, desceu frio pela garganta de tanto esperar.
-Está bem.

5 comentários:

  1. É só o rumo natural das coisas.

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  2. Vc tem que escrever sobre novos amores!
    Essas questões mal resolvidas não podem deter seu potencial criativo!

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  3. o futuro está enrolado com o passado sempre

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  4. Ju, acho que nada detém seu potencial criativo! Seus textos estão lindos, e o passado sempre traz um charme irresistível a eles!
    Saudades!

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