domingo, 29 de janeiro de 2012

apenas o essencial

te quero (até amanhã de manhã)
espero (só mais quinze minutos)
que fique (não vá embora)
por aqui (esqueci a vírgula)
sem hora pra voltar (não, vá embora)
não olhe no relógio (já está na hora?)
não há tempo certo para se gostar (está atrasado)
não há sinal gráfico ou telegráfico que me façam ir (vá logo!)
me acostumei com aqui (tem certeza?)

agora retire todos os parênteses
(não vá)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

suicídio

Você se foi
eu cho
rei
assim: cortado, pelos soluços
cho
rei

até que cortei a mim
e
u
então parei.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Culinária amorosa (açucarado)

Fui a padaria
Comprei dois sacos de carinho e três litros de saudade
Bati no liquidificador com um pitada de sal
Não sei exatamente no que deu
Mas me lembrou você

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

0800

Estava com saudade de ti, amor.
Precisando de um pouco de carinho.
Fui então à livraria comprar dez livros de poemas de amor.
Para ler junto com vinho.
Na hora de pagar, que decepção.
Não vendiam amor à prestação.
Não pude comprar.

Enfim, você voltou, sem cobrar nada para se amar.

domingo, 22 de janeiro de 2012

amar-te

te amo porque acredito em arte
se não acreditasse
seus cachinhos seriam só cachinhos
ao invés de molas que resistem ao desamor
e então
não te amaria

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

bom dia

tudo que faço são poeminhas de travesseiro
espalho as minhas palavras na cama
como um menino bagunceiro
espalha seus brinquedos na grama
vivo então de fazer cafuné
só quero fazer abrir sorriso
como se fosse cosquinha no pé

domingo, 1 de janeiro de 2012

Sobre calendários e pessoas.

Era uma noite como outra qualquer. Talvez exceto pela quantidade de gente nas ruas e de álcool na cabeça. Eu comi, tomei banho, reclamei um pouquinho, ri de coisas sem-graça, conversei, fiz telefonemas; como em qualquer outro dia. E passou o dia, passou a tarde e a noite passou.
E é preciso comprar um calendário novo. E tem coisas velhas que devem ficar - como o amor, a amizade, o carinho. O velho e o novo sempre andam juntos e não adianta falar de esquecer o que passou. Mas está tudo fechado e o calendário fica pra amanhã.
Amanhã, mais um dia, como outro qualquer. Eu vou comer, reclamar, tomar banho, rir. Não necessariamente nessa ordem. Porque o que vem antes e o que vem depois andam juntos e não adianta ficar programando tudo. Nem tudo vai dar certo. Porque há a surpresa, o inesperado.
Alguns dias do calendário vão ficar na memória. E não será por um grande motivo. Vai ser por um jeito diferente de se dizer que ama, por uma coisa sem graça que você vai rir sempre que lembrar, por uma conversa boba. Hoje pode ter um pequeno motivo para ser diferente. E por isso, não é bom deixar tudo pra amanhã.
Ontem, hoje, amanha. Alguns dias vão ser ótimos, outros nem tanto. Mas tudo fica mais fácil quando quem a gente gosta está junto. E por isso, todos os dias são um dia qualquer. Mas as pessoas não. Elas não podem ficar pra amanhã, de jeito algum. Elas não passam no calendário. E são elas que fazem os dias ficarem na memória. Velhas ou novas, elas não passam. Elas só ficam. De dia, de tarde e de noite. Ontem, hoje e amanhã.
Meu calendário não é feito de dias, mas de lembranças.